Atuação da sociedade civil foi fundamental na responsabilização pela trama golpista
Atuação da sociedade civil foi fundamental na responsabilização pela trama golpista
Organizações se reafirmam como força diante da ascensão de movimentos autocráticos
Por Helena Salvador
A sociedade civil organizada desempenhou um papel central no processo de responsabilização daqueles que atentaram contra a democracia brasileira. Essa tarefa não é exclusiva das instituições: exige também a mobilização ativa de organizações comprometidas com a defesa da democracia. Assim como no período pós-ditadura nos países do Cone Sul, em que a sociedade civil liderou a luta por memória, verdade e justiça, hoje ela se reafirma como força essencial diante da ascensão de movimentos autocráticos no Brasil e no mundo.
A coalizão do Pacto pela Democracia, que reúne mais de 200 organizações, esteve na linha de frente desse esforço. Durante as eleições de 2022, articulou uma campanha nacional para assegurar a integridade do processo eleitoral e o respeito ao resultado das urnas. Essa mobilização incluiu manifestos públicos, reuniões com ministros e presidentes das Casas Legislativas, a criação de uma mesa intersetorial em defesa da integridade eleitoral e missões internacionais junto a organismos como a ONU, a OEA, a União Europeia e embaixadas estrangeiras, denunciando ameaças de ruptura democrática.
Após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, a sociedade civil apoiou prontamente a instalação da CPMI que investigou os ataques. Organizações da rede do Pacto trabalharam junto aos parlamentares para garantir que os fatos não fossem esquecidos e que as investigações ocorressem de forma séria no Congresso, em um momento em que ainda se revelavam as dimensões da tentativa de golpe.

Em 2024, a mobilização da sociedade civil voltou-se contra a proposta de anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. Organizações da rede protagonizaram campanhas, realizaram ações de pressão pública e se mantiveram em constante vigilância contra o projeto. Em julho, diante de manifestações em Brasília favoráveis à anistia, o Pacto e suas organizações realizaram um ato no Congresso, entregando mais de 180 mil assinaturas contra a medida e reforçando a defesa da responsabilização.
A responsabilização pelos ataques à democracia é resultado de um esforço constante de vigilância e mobilização da sociedade civil ao exercer um papel de sensibilização e de ativação do debate público. Um esforço que precisa continuar para consolidar a agenda de proteção da democracia e assegurar que crimes dessa natureza não se repitam.